Meu modo de expressão, de extravasar sentimentos, desabafar e mandar recados...
21 de março de 2009
Antena ligada
Guilherme* tinha quatro anos, era um menino comum como todos da sua idade.
Gostava de ver desenhos na TV, tomar leite com chocolate, comer pão com requeijão, andar de bicicleta e falar muito.
Era um falante ambulante, desses que desde o momento em que abrem os olhos até o sono lhe dominar lhe faz procurar onde fica o compartimento de baterias - para serem desconectadas.
Falava sobre tudo, queria saber tudo também.
Adorava carros e conhecia todas as marcas e modelos que passavam por ele na rua. Bastava lhe dizer apenas uma vez que ele memorizava.
Ele gostava de ficar enfiado entre os adultos e amava as histórias de infância, adolescência dos pais, tios e avós. Gostava das trapalhadas e das traquinagens que haviam feito, ria de gargalhar de todas as coisas mal feitas e a cada história repetida escutava atento como se fosse a primeira vez, não interrompia e ria de novo.
Era delicioso ver a alegria dele que lhe contaminava, seu riso solto te fazia rir também.
Guilherme ia além disso ele tinha algo que não era comum a todos os meninos da sua idade, ele assistia a TV sem se mexer ou mudar de posição, passava horas deitado no sofá quieto - pelo menos nesse momento ele ficava quieto.
Mas Guilherme de repente soltava um grito: - Mãe atende o telefone!
A mãe e a avó se entreolhavam pois o telefone nem estava tocando! O menino devia ter ouvido o telefone tocar na TV e confundiu....
- Guilherme, o telefone não está tocando!
Ao que Guilherme respondia: - Mas vai tocar e é fulano!
Segundos depois o telefone tocava e do outro lado da linha, fulano soltava um alô estridente.
Com o tempo a mãe já nem se espantava com isso, era ouvir o Guilherme gritar e atender o telefone em seguida.
Ah! Isso foi no tempo em que o sistema de "bina" nem existia na telefonia brasileira, nem existia celular ou qualquer outro identificador de chamada. Apenas o Guilherme tinha uma antena bem ligada e captava a ligação antes dela acontecer.
Bem , isso não é uma historinha de ficção e esse menino hoje, com mais de 20 anos foi crescendo e virando um menino como os outros, desligou a antena e nem lembra bem dessa história.
O que era isso?
Bem ele telepaticamente ficava na sintonia com o pensamento da outra pessoa. Quando a pessoa do outro lado pensava em pegar o telefone e ligar o Guilherme captava e já avisava daquela intenção que nunca falhou.
Acho mesmo que hoje se o Guilherme pensar bem, alguém quando liga para ele deve ouvir:
- Poxa estava mesmo pensando em voce e me ligou!
Qualquer dia desses eu mesma sento com ele e descubro se ele ainda tem essa antena e se gostaria de aprender a usar isso em favor do bem e próprio.
Ah! Guilherme continua gostando de histórias dos pais, tios e avós e continua falando pelos cotovelos.
É um homem, trabalha e tem um coração maravilhoso, chegando muitas vezes a ser ingênuo, pois acredita sempre na lealdade dos amigos.
Sinto saudades do riso solto dele...
* Obs.: O nome dele foi propositalmente trocado.
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